O preconceito linguístico pode ser considerado preconceito social?
- Sara Cristina
- 15 de nov. de 2016
- 2 min de leitura

O preconceito linguístico é a atitude que consiste em discriminar uma pessoa devido ao seu modo de falar. Em geral, o preconceito linguístico é exercido pelas pessoas que ocupam as classes sociais dominantes, que tiveram acesso à educação formal e, portanto, à norma-padrão de prestígio. Assim, acreditam que seu modo de falar é mais "certo", mais "bonito" que o das pessoas sem instrução formal ou com pouca escolarização.
Na verdade, o preconceito linguístico é somente um disfarce para um profundo preconceito social: não é a língua da pessoa que é discriminada, mas a própria pessoa em sua identidade individual e social. Essa atitude pode ser considerada preconceito porque a linguística moderna tem demonstrado, cientificamente, que todos os modos de falar uma língua são lógicos, coerentes, seguem regras sistemáticas. Existe uma razão para as pessoas dizerem "aquela coisa toda", quando a norma-padrão existe "aquelas coisas todas": há regras gramaticais que explicam satisfatoriamente este tipo de concordância. Assim, o preconceito linguístico, como todo tipo de preconceito, é fruto da ignorância.
A mídia poderia ser um elemento precioso no combate ao preconceito linguístico. Infelizmente, ela é hoje o pior propagador deste preconceito. Enquanto os estudiosos, os cientistas da linguagem, os educadores e até os responsáveis pelas políticas oficiais de ensino já assumiram posturas muito mais democráticas e avançadas em relação ao que se entende por língua e por ensino de língua, a mídia reproduz um discurso extremamente conservador, antiquado e preconceituoso sobre linguagem.
Como no Brasil a educação não é de fácil acesso a todas as pessoas, apenas uma parcela da população (aquela que tem uma melhor condição econômica) tem acesso ao estudo da língua “correta”, enquanto a outra é considerada “sem língua”, já que a língua-padrão não engloba as variações, gírias, que representam o modo como essas pessoas falam. É importante perceber que a língua que falamos não é a mesma que escrevemos, portanto ninguém fala errado, já que e a escrita não é apenas uma forma de transcrever o que dizemos em forma de símbolos e a sua função é garantir a comunicação efetiva, ou seja, se esse fim se cumpre, a comunicação e a língua utilizadas estão “corretos”.
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